Por Girls in Green
Quando pensamos em cannabis, não dá pra negar toda sua ligação com o universo feminino. Procuramos por plantas fêmeas para aliviar dores, curar condições diversas, e mesmo para fazer o uso adulto, extrair concentrados e outros tipos de medicina. E essa ligação não acontece à toa: a maconha é utilizada há séculos como aliada de todas as pessoas que possuem útero para ajudar a conter os mais diversos sintomas relacionados ao sistema reprodutivo, suas funções e problemas.
O corpo feminino e seus ciclos
Hora de voltar para a quinta série e retomar algumas informações importantes sobre o sistema reprodutor feminino. Um dos principais órgãos desse sistema é o útero, que faz muito mais do que abrigar humanos em desenvolvimento. Este órgão muscular possui seu próprio sistema nervoso, redes únicas de artérias e quatro tipos de ligamentos. Ele desprende seu revestimento interno – o endométrio – a cada 28 dias ao longo de cerca de 40 anos (ou seja, sua menstruação).
Ele ainda se estende para acomodar um feto em crescimento, se contrai em trabalho de parto ativo para empurrar o bebê para fora, e depois continua se contraindo para voltar à sua forma original – do tamanho de um punho. Incrível, né?
Mas, como nada na vida vem de graça, tudo isso envolve dor – muita dor – mesmo em um órgão totalmente saudável. Para a nossa sorte, como o resto do corpo humano, o útero é lotado de receptores endocanabinóides, tornando a cannabis uma opção sólida para tudo o que o aflige. E, mesmo antes que a ciência pudesse dar qualquer tipo de explicação, suas finalidades já eram descritas em livros de medicina de diversas civilizações antigas!
Hoje, já sabemos que o sistema endocanabinóide possui uma série de receptores espalhados pelo nosso corpo – através do sistema nervoso central, periférico e imunológico.
Os receptores endocanabinóides interagem com as vias complexas da dor. Dois tipos de receptores canabinóides são de particular interesse: receptores canabinoides 1 (CB1) e cannabinoides 2 (CB2). Os receptores CB1 são altamente expressos nos tecidos do útero e outros órgãos não reprodutivos. Já os receptores CB2 são encontrados em vários tecidos, incluindo pulmão, intestino, pâncreas, pele e também do útero. Além de modular a dor, esse sistema tem papéis importantes na redução de inflamações e na promoção de um bom funcionamento do organismo como um todo.
Mas com o que, especificamente, a cannabis pode ajudar?
Com evidências ancestrais aliadas às novas pesquisas que temos acesso atualmente, já sabemos que a maconha pode tratar:
Síndrome pré-menstrual e transtorno disfórico pré-menstrual
Quem nunca sofreu com a famosa TPM?
Embora a menstruação seja uma experiência normal entre as mulheres férteis, muitas apresentam a síndrome pré-menstrual (TPM), caracterizada por sentimentos de inchaço, irritabilidade, tensão, sensibilidade nos seios e humor deprimido. O transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) abrange um maior número de sintomas e piora da gravidade.
As opções de tratamento atuais para PMS e PMDD incluem mudanças no estilo de vida, antidepressivos e intervenções hormonais. Para muitas mulheres, esses tratamentos são insuficientes e podem estar associados a efeitos colaterais negativos. Mas a cannabis medicinal pode servir como um tratamento alternativo eficaz para as condições de saúde dessas mulheres e pode oferecer menos efeitos colaterais negativos! Descobertas anteriores sugerem que a cannabis tem a capacidade de diminuir problemas de sono, irritabilidade e dor nas articulações e, portanto, pode desempenhar um papel útil em alguns dos sintomas associados à TPM ou TDPM.
Um estudo recente demonstrou que as mulheres que esperavam resultados positivos de tratamentos com cannabis conseguiram alívio dos sintomas de TPM ou TDPM. Essas mulheres usaram cannabis com mais frequência ao longo do mês. Embora o mecanismo exato para esses efeitos seja desconhecido, o sistema endocanabinóide pode desempenhar um papel nisso, e um pesquisador propôs que os efeitos terapêuticos da cannabis para mulheres que experimentam menstruações dolorosas são resultado de mecanismos antiinflamatórios da cannabis. E, falando nelas…
Menstruação dolorosa ou dismenorreia
Conta a história que a Rainha Vitória, da Inglaterra, sofria com um período menstrual bem caótico e lotado de dores.
Embora não haja fundamento que indique que ela mesma tenha consumido maconha, é provável que os períodos dolorosos da Rainha Vitória tenham sido tratados com tinturas preparadas por seu médico pessoal, Sir John Russell Reynolds. Depois de 30 anos trabalhando com a planta, ele a declarou útil para cólicas, entre outras coisas. Segundo estudos da época, o cânhamo também seria de grande utilidade nos casos de dismenorreia espasmódica simples.
Hoje, médicos e pesquisadores afirmam que, quando se trata de menstruação, a dor é a razão número um pela qual os pacientes chegam – e que a cannabis definitivamente ajuda. Para as cólicas que as mulheres experimentam, o CBD é conhecido por relaxar os músculos e ajudar com espasmos musculares. O grande foco é no CBD, mas o THC também pode desempenhar um papel, aumentando os efeitos do CBD.
Endometriose
A Endometriose é uma condição em que o tecido que normalmente reveste o interior do útero cresce em outros locais do corpo, principalmente na pelve perto do útero. As mulheres que sofrem de endometriose geralmente sentem dores intensas, principalmente durante a menstruação, pois esse tecido está inchado e também descama em resposta aos ciclos hormonais.
As consequências a longo prazo da endometriose são devido à inflamação de anos de material menstrual que ficou preso dentro da pelve durante a menstruação, causando irritação e levando à inflamação crônica, estenoses e problemas com os tratos genitourinário e gastrointestinal. O tratamento dessa dor tem sido historicamente muito desafiador, e muitos são atualmente baseados em hormônios.
O sistema endocanabinóide pode servir como um alvo para tratamentos de endometriose, especialmente quando se trata de controle da dor. Mulheres com endometriose têm níveis mais baixos de receptores CB1 em seu tecido uterino, e menos receptores e ativação diminuída desses receptores podem levar ao agravamento da dor. Portanto, aumentar a ligação a esses receptores é importante, e isso torna a cannabis uma opção de tratamento incrível.
Gravidez
Existem muitas incógnitas para a saúde a longo prazo de um feto em desenvolvimento, então você não encontrará nenhum profissional médico distribuindo cannabis para coisas como náuseas ou tornozelos inchados – pelo menos não no Canadá e nos Estados Unidos. Mas há muito tempo, a cannabis era um remédio usado para tudo isso.
Em seu livro Smoke Signals, Martin A. Lee disse um remédio popular de longa data das regiões germânicas que era usar “raminhos de fibra poderosa sobre o estômago e tornozelos de mulheres grávidas para evitar convulsões e partos difíceis”. Há também um texto do século 9 da antiga Pérsia, o Al-Aqrabadhin Al-Saghir, que menciona a cannabis para “acalmar as dores uterinas, prevenir o aborto e deixar os fetos no abdômen de suas mães”.
Na América do Século 19, o médico T.L. Wright afirmou que a cannabis é especialmente útil para o vômito durante a gravidez, uma condição quando grave é chamada de hiperêmese gravídica que pode colocar em perigo a mãe e o feto (mais recentemente sofrida pela duquesa de Cambridge, Kate Middleton).
Como já falamos aqui no blog, sempre iremos defender a autonomia da mãe quando a decisão é sobre usar ou não a cannabis durante a gravidez – mas também concordamos que esse uso deve ser feito com cuidado e atenção!
Trabalho de parto
Agora que suas propriedades analgésicas foram clinicamente confirmadas, faz sentido que a dona cannabis tenha sido amplamente usada historicamente para facilitar partos. Datado de pelo menos 1500 a.C., uma passagem de texto do médico egípcio, Ebers Papyrus, descreve a maconha como um remédio contra as dores do parto. Além disso, historiadores contam que mulheres da elite romana (cerca de 600 a.C. a 500 d.C.) também usavam cannabis com o mesmo objetivo.
De volta à Inglaterra vitoriana, Sir Alexander Christison estudou extensivamente a cannabis, publicando em 1851 que ela “aumenta a força da contração uterina”, ajuda a dilatar o colo do útero, não induz o sono, funciona rapidamente e que “o cânhamo indiano muitas vezes pode ser um serviço essencial na promoção da contração uterina em trabalhos de parto difíceis”.
No entanto, muitos médicos da atualidade afirmam que a cannabis não é uma opção segura durante o trabalho de parto ativo por causa dos efeitos desconhecidos na mãe e no bebê. Pesquisar isso também é difícil, já que os pesquisadores não querem colocar ninguém em risco.
Dores pélvicas
A dor pélvica crônica (DPC) é um sintoma cada vez mais relatado por mulheres. Um estudo recente descobriu que 100% dos pacientes que usaram cannabis para tratar a condição tiveram uma redução clinicamente significativa de 5,9 pontos no escore de dor, resultando em pontos de eficácia bem significativos.
Um estudo adicional de 2018 apoia o uso de cannabis para ajudar os pacientes com DPC que não responderam às opções de tratamento padrão – como é o que acontece com pacientes epiléticos. Os especialistas concordam que, embora não tenha sido rigorosamente estudada especificamente para DPC, a cannabis medicinal é uma opção eficaz para tratar a dor crônica, então pode-se presumir que poderia ser uma opção segura para pessoas que lutam contra o distúrbio.
Saúde sexual
Você já deve ter lido por aí (inclusive, por aqui) que a maconha é um afrodisíaco ou que pode melhorar o prazer sexual. Os cientistas levantam a hipótese de que a planta atua nesses aspectos da saúde sexual por meio do sistema de dopamina – que estimula o comportamento pró-sexual. Segundo estudos, a ativação dos receptores canabinóides aumenta a dopamina, deixando você naquele mood Netflix and chill, se é que me entendes.
Além disso, foi demonstrado que a cannabis leva a um aumento de hormônios específicos, como a oxitocina e a testosterona, que são conhecidos por promover o desejo sexual. Embora a excitação e o funcionamento sexuais sejam complicados e difíceis de estudar de maneira controlada, há dados que mostram que a cannabis pode desempenhar um papel positivo na promoção da saúde sexual sim!
Uma pesquisa com 373 mulheres descobriu que o uso de produtos de cannabis antes da atividade sexual aumenta o desejo sexual e diminui a dor, reforçando que as mulheres que sofrem de baixo desejo sexual, por conta de traumas ou pouca libido, ou experimentam atividade sexual dolorosa podem encontrar na cannabis uma solução potencial.
Menopausa
Além de seu uso para endometriose, cólicas menstruais e TPM, mulheres com sintomas relacionados à menopausa também relatam benefícios da cannabis. Um estudo baseado em pesquisa realizado em 2016 descobriu que a cannabis alivia certos sintomas da menopausa, como problemas de sono, irritabilidade, depressão e dores nas articulações. Além desses sintomas, algumas mulheres esperavam que a cannabis aliviasse ondas de calor, secura vaginal e problemas de bexiga, embora as evidências desses efeitos não tenham sido comprovadas.
Um dado interessante adicional deste estudo mostrou que as expectativas das mulheres de como a cannabis poderia ajudar em seus sintomas tiveram um efeito sobre a eficácia. Esta é uma forte evidência para educação adicional sobre os benefícios potenciais da cannabis medicinal, pois as mulheres que entendiam como ela poderia ajudá-las tinham mais probabilidade de ver um resultado. Mais importante ainda, os pesquisadores concluíram que a cannabis medicinal pode aliviar os sintomas da menopausa sem quaisquer consequências negativas, sugerindo que a cannabis é uma ferramenta adicional para mulheres que procuram alívio.
Além disso, ela pode aliviar…
- Insônia;
- Ansiedade;
- Dores e enjoos provenientes do câncer e seus tratamentos;
- Dores vaginais;
- Infecções fúngicas e proliferação de bactérias nocivas;
E muito mais.
De quais formas ela pode ser usada?
Tudo depende da sua necessidade!
Atualmente, o óleo de cannabis full-spectrum tem sido explorado como uma medicação poderosa para tratar das mais diversas doenças e seus sintomas. E, embora a gente saiba que a indústria farmacêutica tem isolado o CBD, sempre defendemos a medicina completa. A cannabis conta com mais de cem tipos diferentes de canabinóides, além de terpenos e terpenóides, que trabalham em conjunto no efeito entourage – onde os compostos anulam os efeitos negativos e potencializam os positivos um dos outros. Por isso, dê preferência ao full-spectrum!
Publicação original: https://girlsingreen.net/blog/maconha-e-sexualidade-feminina