Especialistas avaliam que a falta de legislação específica atrasa avanços acadêmicos e impede o Brasil de se tornar competitivo no mercado internacional
Por Diario do Nordeste
Como fazer pesquisa científica sem ter contato com a matéria-prima em investigação? No Brasil, as restrições impostas sobre o manuseio e acesso à Cannabis medicinal, há décadas, afetam a evolução da pesquisa científica sobre o tema no País. Mas, há alguns anos, escolas de Agronomia de algumas universidades, com o aval da Justiça, estão, aos poucos, mudando esse quadro.
A Universidade Federal São João Del-Rei (UFSJ), em Minas Gerais, foi a primeira a ter cultivo autorizado, em 2017. Contudo, não podia haver o plantio; a permissão era para o cultivo in vitro, com as sementes colocadas em uma solução nutritiva dentro de tubos de vidro de laboratório. Não havia uso da agricultura tradicional.
Já em 2020, mais duas instituições de ensino superior conseguiram o direito de cultivá-la. Uma delas é a Universidade Federal de Viçosa (UFV-MG), que desde fevereiro do ano passado, em parceria com a Startup ADWA Cannabis, pode plantar Cannabis para estudar as variedades, as condições de cultivo da planta e melhoramento genético.
Outra é a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que, em parceria com a Associação Canabiologia, Pesquisa e Serviços (Canapse), desde julho de 2020, pode plantar Cannabis para investigar os benefícios à saúde. O cultivo da planta acontece na sede da Canapse, amparado por habeas corpus concedido em 2018.
Em todos os casos, como não há autorização do órgão para plantio de cannabis no país, ainda que para fins de pesquisa, segundo a Anvisa, os cultivos podem ocorrer por autorização judicial.
No Ceará, o Diário do Nordeste consultou a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade Federal do Cariri (UFCA) e a Universidade Estadual do Ceará (Uece) para saber se há alguma plantação de maconha medicinal com finalidade de pesquisa científica. Em nenhuma delas, há cultivo do tipo, afirmaram.
POTENCIAL TECNOLÓGICO
O engenheiro-agrônomo Sérgio Rocha é diretor-executivo e fundador da ADWA Cannabis Pesquisa e Desenvolvimento LTDA., empresa de melhoramento genético de Cannabis, que desenvolve junto à Universidade Federal de Viçosa (UFV) pesquisas sobre a planta.
Ele é membro do Grupo Brasileiro de Estudos sobre a Cannabis sativa (GBEC/UFV) e, em entrevista ao Diário do Nordeste, fala sobre a relevância desse trabalho e qual é a contribuição para a ciência brasileira.
DESDE QUE ANO A UNIVERSIDADE TEM AUTORIZAÇÃO DA ANVISA PARA O CULTIVO DE CANNABIS PARA FINS DE PESQUISA E USO MEDICINAL? E QUAL O FOCO DAS PESQUISAS AUTORIZADAS?
Após esgotadas todas as tentativas através da Universidade e via Anvisa, a startup ADWA acionou a Justiça Federal e, em fevereiro de 2020, recebeu autorização para iniciar os cultivos junto à UFV.
As pesquisas fazem parte do primeiro programa de melhoramento genético de Cannabis do país e têm como objetivo desenvolver plantas altamente produtivas, adaptadas às diferentes condições de clima e solo brasileiros, resistentes às pragas locais e que atendam à demanda de flores, fibras e grãos, tanto para o setor medicinal quanto para as diversas indústrias de transformação.
COMO ESTÁ O DESENVOLVIMENTO DESSAS PESQUISAS ATUALMENTE?
As pesquisas estão permitindo selecionar materiais superiores e identificar as plantas com maior potencial para serem cultivadas no país. Já estão sendo cultivadas plantas obtidas através de cruzamentos feitos no ano passado.
As pesquisas, que foram iniciadas em parceria com o Departamento de Agronomia e o Programa de Pós-graduação em Fitotecnia, estão em expansão com abertura de novas linhas de trabalho relacionadas tanto aos fatores produtivos e de melhoramento genético, quanto ao desenvolvimento de novos produtos que utilizam a planta, ou parte dela, como matéria-prima.
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/metro/estudos-cientificos-com-cannabis-permitem-identificar-plantas-com-maior-potencial-medicinal-1.3167208