‘Superpromissor’, estudo da USP esquenta debate sobre o canabidiol no tratamento contra depressão

Por Gabriel Batistella Chames

Um estudo recente promovido pela Universidade de São Paulo obteve resultados interessantes a respeito do uso do canabidiol (CBD), um dos diversos canabinoides encontrados na planta cannabis para o tratamento de doenças psíquicas como ansiedade, depressão e a síndrome de Burnot. O levantamento mostrou uma diminuição de 60% dos sintomas de ansiedade, 50% dos de depressão e 25% dos de Burnot. São resultados positivos, que podem indicar um avanço para o tratamento de transtornos que aumentaram consideravelmente nos tempos de confinamento forçado pela Covid-19. No ranking de países mais felizes do mundo, o Brasil hoje ocupa a 41ª posição. Em 2019, era o 32º. Somente entre os jovens, os casos de depressão aumentaram 25,2% durante a pandemia em todo o mundo, de acordo com a revista cientifica inglesa “JAMA Pediatrics”. 

O psiquiatra e professor de medicina da Universidade Santa Marcelina de São Paulo, Bernardo Rahe, 36, explicou como os canabinoides podem auxiliar nos cuidados de doenças psicológicas. “O cérebro possui receptores para os canabinoides. Esses receptores são CB1 e CB2. Eles estão espalhados, atuando para modular outros neurotransmissores. O estímulo do canabidiol no receptor CB1, de maneira moderada, atua modulando a liberação de serotonina, que é o neurotransmissor relacionado ao humor da pessoa, tendo assim uma regulação no estado emocional e auxiliando o tratamento para transtornos de depressão e ansiedade”, explicou. 

O professor vê a pesquisa como “promissora”, porém faz o alerta de que ainda não é possível obter um resultado 100% positivo no tratamento isolado com canabidiol para transtornos psíquicos. “Eu acho [a pesquisa] superpromissora, particularmente falando. Sou entusiasta em relação aos estudos, porém, infelizmente, ainda não temos uma comprovação de que podemos falar do uso para um tratamento em monoterapia, um tratamento completo com canabidiol”, disse. 

Número de pedidos

Não é de hoje que o uso de produtos compostos pelo canabidiol vem sendo debatido. Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a liberação do uso, a importação dos produtos vem aumentando constantemente. Desde 2015 (ano da autorização), houve um aumento de 1766,1% de pedidos. A Kaya Mind, empresa brasileira de inteligência de mercado da cannabis, prevê aumento de 151% de pedidos de importação dos produtos neste ano em comparação com 2020.

O diretor técnico da FarmaUsa, Hélder Dário Colmenero, 53, comentou o número de pedidos de importação por produtos à base do canabidiol, que tem crescido constantemente na empresa em que trabalha, ano após ano. “Aumentou entre 200 e 300% aproximadamente. Hoje temos em torno de 30 mil pacientes que acessaram o produto só para a importação. Ele é mais utilizado hoje para além de epilepsia, casos de dor crônica, depressão, ansiedade e demais usos.” Colmenero falou também sobre a importância da utilização do produto em casos como depressão e ansiedade.

“O canabidiol tem uma vantagem: ele não causa dependência e a resposta é muito rápida. Não estou falando que os outros medicamentos não têm importância terapêutica, claro que têm. E muita! Mas geralmente há um período de latência de três semanas. Um paciente que está no processo depressivo não consegue esperar as três semanas, e o canabidiol consegue agir muito mais rapidamente nesse processo da depressão e da ansiedade.” Ele ainda faz questão de ressaltar que os produtos à base de cannabis, não podem ser de uso isolado, mas servem de auxílio para outros medicamentos no tratamento.  “A Anvisa considera a utilização dos produtos de cannabis, ou uso dos canabinoides, não como primeira nem como segunda linha de opção. É sempre um medicamento, ou um produto que vai entrar como um adjuvante. Ou seja, eu não retiro aqueles medicamentos que a pessoa está tomando, ele entra junto.”

Quais as diferenças entre CBD e THC?

CBD (canabidiol) e THC (tetrahidrocanabinol) são compostos que pertencem ao grupo de substância dos canabinoides, que podem ser encontradas na planta cannabis. O THC atua diretamente na ativação das células do receptor CB1, dando efeitos psicoativos no cérebro de uma pessoa, o popular “barato da maconha”. Já o CBD atua no receptor CB2 e corta as atividades do THC no receptor CB1, assim fazendo o balanceamento dos efeitos psicoativos. É importante ressaltar que o canabidiol não gera vicio.

Como a cannabis é regulamentada em alguns países:

  • Alemanha: apenas para uso medicinal, com prescrição;
  • Argentina: apenas para uso medicinal;
  • Canadá: legal para qualquer fim, porém é proibido sair do país com a droga;
  • Colômbia: totalmente liberado apenas para uso medicinal. É permitido o cultivo de até 20 plantas para consumo pessoal e com licenciamento para o uso;
  • Chile: legal para fins médicos. Para porte e consumo, menos de 25 gramas consumidas;
  • EUA: para fins recreativos, é legal somente em nove estados. Para fins medicinais, é legal em 31 estados;
  • Holanda: legal para fins medicinais. É tolerado o uso recreativo apenas em coffeshops. O governo do país está sendo cada vez mais rígido com as regras do uso;
  • Uruguai: legal para recreação, uso medicinal e cultivo.

No Brasil

O uso da cannabis no país é legal apenas para fins médicos. A compra e a importação de produtos à base de cannabis pode ser permitida, desde que o produto solicitado tenha até 0,2% de THC, além de autorização e prescrição para obtê-la. Para recreação e cultivo, a maconha permanece proibida, assim como as vendas sem a permissão do governo.

publicação original: https://jovempan.com.br/noticias/brasil/superpromissor-estudo-da-usp-esquenta-debate-sobre-o-canabidiol-no-tratamento-contra-depressao.html

 

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