Por Escola de Educação permanente FMUSP em 09/05/2022
O esporte de alta performance é resultado, e para isso, o atleta esgota o corpo, indo até o seu limite. Com isso, passa a ter desgaste em todo o corpo, com dores crônicas e problemas articulares. O uso da cannabis no esporte vem como um aliado para aliviar as dores e os problemas articulares – mas ainda há muito o que desmitificar.
Regulamentação do CBD no esporte
O uso do CBD é estudado há anos, sendo que em meados da década de 1980/90 foi descrito pela primeira vez o sistema endocanabinoide pelo Professor Raphael Mechoulam, seu grupo de pesquisa de Israel, e colaboradores de outros países, inclusive brasileiros.
“A partir de então, estudos da aplicação do produto passaram a ganhar força para o uso terapêutico, tendo ainda mais relevância depois de 2010. O primeiro produto com fins medicinais no Brasil ocorreu em 2014, a partir de medida judicial”, conta o Dr. Renato Anghinah, Professor Livre Docente da Faculdade de Medicina da USP.
Em 2015, a cannabis medicinal ganhou mais força no país, e passou a ser indicada para tratamento de epilepsia refratária, e em seguida para pacientes com transtorno do espectro autista (TEA). Com o passar dos anos, surgiram novas evidências científicas na aplicação para ansiedade, dores crônicas e neuropáticas, e sono – condições comuns que afetam os atletas de alta performance, por exemplo.
Em contrapartida, o corticoide, que sempre foi utilizado pelos atletas, passou a ser cada vez mais restrito, até ficar proibido para atletas profissionais – foram substituídos por produtos derivados da cannabis, por não influenciarem no desempenho.
Desde 2018, o uso de cannabis no esporte passou a ser liberado pela Agência Mundial Antidoping (WADA, na sigla em inglês), já que existem comprovações de que a substância é uma grande aliada para os atletas. O canabidiol (CBD) contribui para o rendimento físico dos esportistas, melhora o tratamento de lesões, reduz as dores e inflamações causadas durante os treinos, controla a ansiedade e melhora a qualidade do sono.
Diversos países da Europa e os Estados Unidos comercializam a cannabis medicinal de forma legal. Na Califórnia, por exemplo, é possível comprar o CBD em casa mesmo, com o auxílio de um aplicativo para o celular – ou seja, não há necessidade de ir até uma farmácia para comprar o produto.
“A diferença entre o Brasil e os EUA é que toda essa comercialização é legalizada pelos órgãos competentes americanos, qualquer pessoa pode comprar; enquanto no Brasil, o uso e comercialização são liberados apenas com autorização prévia da Anvisa para cada paciente. Ou seja, é importante que os brasileiros tomem muito cuidado com estabelecimentos que vendem o produto de maneira ilegal. Nós não sabemos a origem e quais são as substâncias presentes no produto”, aponta Dr. Renato.
Por que muitos atletas usam CBD?
Com a atual regulamentação da WADA, a cannabis no esporte deixou de ser considerada “droga alucinógena” e passou a ser vista como benéfica para os atletas. “Vale lembrar que é o uso do canabidiol isolado, sem tetrahidrocanabinol (THC). Porém, para os esportes que não seguem a regulamentação da WADA, como as lutas, o canabidiol com THC é liberado”, ressalta Dr. Renato.
Diversos esportes podem causar lesões nos atletas; os traumas podem ser leves e até graves, e a cannabis age no tratamento e até cura dos casos – não é por acaso que os atletas estão entre os principais adeptos da cannabis medicinal.
Porém, mesmo com a comprovação científica de que o uso da cannabis no esporte é um grande benefício para os atletas, é preciso que a área médica, cada vez mais, conheça esse potencial. “Quanto mais conhecimento nós tivermos sobre o uso da cannabis medicinal, mais ela poderá ajudar nos tratamentos!”, finaliza Dr. Renato Anghinah.
Publicação original: https://eephcfmusp.org.br/portal/online/cannabis-no-esporte/