No mês voltado à conscientização sobre esse tipo de câncer que afeta o sangue, entenda como a Cannabis pode ajudar no tratamento
A Leucemia é uma doença que ainda afeta muitas pessoas em todo o mundo. O INCA (Instituto Nacional de Câncer) estima que durante o triênio 2020/2022, sejam diagnosticados 5.920 casos da doença no Brasil por ano. Quanto mais cedo for o diagnóstico da Leucemia, maiores são as chances de sucesso no tratamento. Por isso, durante esse mês, temos o Fevereiro Laranja, que traz a importância da conscientização sobre o quadro.
E alinhados com essa importância, preparamos um artigo completo sobre a doença e, também, trazemos informações importantes sobre o uso da Cannabis Medicinal para o tratamento de Leucemia. Continue lendo e tire suas dúvidas.
O que é Leucemia
A Leucemia é um tipo de câncer que afeta essencialmente as células brancas do sangue, podendo gerar acúmulo de células com alterações malignas na medula óssea e que podem se espalhar pelo corpo, podendo afetar a produção saudável de componentes do sangue (como glóbulos vermelhos, plaquetas e glóbulos brancos).
Pode ser um quadro silencioso, mas em alguns casos, ela manifesta-se com alguns sinais e sintomas. Estão entre os principais deles:
- febre alta com calafrios;
- perda de peso sem causa específica;
- suor noturno;
- sensação de ínguas inflamadas (principalmente pescoço, axila e ossos do cotovelo);
- sensação de aumento do baço;
- anemia;
- sonolência;
- baixa concentração de plaquetas no sangue;
- aumento na frequência de infecções como candidíase oral;
- dor nos ossos e articulações;
- sangramento nasal com dificuldade de parada;
- menstruação com maior fluxo do que o normal;
- dores de cabeça;
- náuseas;
- vômitos.
Nos casos assintomáticos (normalmente quando há um quadro crônico) o sinal pode aparecer por meio de alterações no hemograma de rotina. O diagnóstico ocorre por meio de exames específicos, que indicarão qual o subtipo de Leucemia que está sendo encontrado. Isso é importante para encontrar o tratamento mais específico para cada situação.
O principal exame solicitado é o hemograma. Normalmente encontramos um aumento no número de leucócitos e que pode estar associado ou não com uma diminuição de hemácias e plaquetas, o que pode sugerir o quadro.
Em caso de suspeita, portanto, o médico responsável pode solicitar coleta da medula óssea e imunofenotipagem, que são exames com maior precisão para identificar o quadro. A partir disso é possível não só descobrir se há, de fato, a doença, bem como definir o seu tipo e se trata de uma situação aguda ou crônica.
O hemograma pode apontar alterações em 30 dias após o começo da doença. Por isso o diagnóstico precoce é importante para que os tratamentos, caso confirme-se a Leucemia, comecem o quanto antes. Esses exames complementares são importantes, pois este tipo de alteração também pode surgir devido a quadros infecciosos, que causam mudanças no hemograma. A Leucemia possui subtipos e vamos mostrar cada uma delas a seguir.
Leucemia mieloide aguda
É um quadro que pode desenvolver-se rapidamente e, portanto, exige bastante atenção para o diagnóstico precoce. Normalmente apresenta-se no hemograma com nível de hemoglobina e plaquetas baixas e presença de bastos no sangue. Ela afeta igualmente adultos e crianças e, normalmente, seus tratamentos envolvem:
quimioterapia;
transplante de medula óssea.
Leucemia mieloide crônica
O quadro crônico tem um desenvolvimento mais lento. Ela normalmente é mais prevalente em adultos e pode ser controlada por meio de medicação ao longo da vida. Normalmente nos exames de hemograma ela manifesta-se com número alto de leucócitos e a presença de leucócitos jovens, o que é chamado de “desvio escalonado”.
Leucemia linfoide aguda
É um quadro que possui um avanço muito rápido e, portanto, tende a ter uma maior gravidade. Ela afeta igualmente crianças e adultos. Os tratamentos convencionais para ela são:
radioterapia;
transplante de medula óssea.
Leucemia linfoide crônica
É um quadro que agrava-se com menor velocidade e, normalmente afeta mais idosos. Em alguns casos não é necessário realizar tratamento, apenas mantendo o controle periódico para avaliar a saúde do paciente.
Causas da Leucemia
Infelizmente ainda não temos uma explicação que nos diga quais são as reais razões pelas quais a leucemia possa surgir. O que sabemos é que já alguns fatores de risco, entre elas:
- idade: ela tende a ocorrer em todas as idades, mas possui maiores chances de surgimento de acordo com o envelhecimento da pessoa;
- gênero: ela é mais prevalente em homens;
- tabagismo;
- exposição a produtos químicos tóxicos, principalmente o benzeno (solvente presente na indústria de borracha e petróleo);
- medicamentos quimioterápicos;
- exposição a radiações;
- doenças do sangue: estão entre algumas das doenças do sangue que atuam como fator de risco a trombocitopenia, policitemia vera, mielofibrose idiopática;
- síndromes hereditárias;
- histórico familiar.
Lembramos que fator de risco não significa que você, de fato, desenvolverá Leucemia caso tenha um ou mais desses fatores. Além disso, pessoas que não possuam nenhuma dessas questões podem ser diagnosticadas com essa malignidade.
A Leucemia é um quadro grave e que pode trazer complicações severas para o paciente. Por isso, é fundamental ter os tratamentos adequados. Cada tipo é escolhido de acordo com o quadro e a gravidade, bem como considera também o custo-benefício no tratamento, evitando-se possibilidades de problemas que possam complicar mais do que trazer qualidade de vida para o paciente.
Veja a seguir alguns dos que são adotados.
Quimioterapia
Costuma ser o principal tratamento para a Leucemia Mieloide Aguda. Nos casos em que há complicações de saúde ou idade avançada, pode não ser recomendada, para evitar que tenha ainda mais prejuízos a seu bem-estar devido aos efeitos colaterais do tratamento.
Radioterapia
É o tratamento mais utilizado na Leucemia Linfoide Aguda, para evitar disseminação pelos tecidos (especialmente o cérebro) e também auxiliar a diminuir dores ósseas. É um procedimento indolor, mas ainda assim causa efeitos colaterais que podem prejudicar a qualidade de vida do paciente. Por isso, também avalia-se se é possível realizar o tratamento dada a condição de saúde do paciente.
Transplante de medula óssea
Como a Leucemia afeta a medula óssea, em alguns casos, o tratamento mais eficiente pode ser o transplante de medula óssea. Nesse caso, há a substituição de uma medula óssea doente, que produza glóbulos brancos com problemas por uma que seja saudável. Em outras palavras, seria como “reiniciar” o local com o transplante.
Nós temos duas possibilidades:
transplante de medula autogênico: nesse caso, é reimplantada a própria medula do paciente;
transplante de medula alogênico: nesse caso, é transferida a medula de um doador compatível.
Importante ressaltar que o transplante é, assim, um tratamento complementar, sendo necessário realizar outros convencionais também. Para os casos de transplante alogênico, é preciso analisar as amostras de sangue para analisar se de fato são compatíveis, para evitar rejeição pelo organismo.
O uso de canabinoides no tratamento de Leucemia
Muitas vezes os tratamentos convencionais podem, ainda, não levar a remissão do quadro de Leucemia. Em outros, pelas condições de saúde do paciente, alguns dos métodos tradicionais não podem ser realizados. Além disso, temos também os efeitos colaterais dos tratamentos convencionais que podem causar profundo desconforto para o paciente.
Uma forma de ajudar os pacientes de Leucemia é utilizar como terapia coadjuvante os canabinoides. Eles podem ser utilizados tanto como complemento para minimizar o crescimento das células cancerígenas e evitar o agravamento da doença quanto para minimizar os efeitos colaterais dos tratamentos convencionais (como quimioterapia e radioterapia).
Mais a frente vamos explicar sobre o primeiro caso, com evidências clínicas e científicas sobre o tema. Acerca das questões relacionadas com maior conforto e alívio dos sintomas, isso ocorre pela ação dos canabinoides no sistema endocanabinoide dos pacientes, que auxilia na regulação de funções importantes do organismo. Assim, podemos ter benefícios importantes, entre eles:
- minimiza a perda de apetite, característica, principalmente, de quem realiza o tratamento quimioterápico;
- minimiza também náuseas;
- auxilia a ter um sono de melhor qualidade;
- promove analgesia, entre outros benefícios.
Além disso, o uso de Cannabis para Leucemia tem a função importante se potencializar os efeitos dos tratamentos convencionais. Quando atuam em conjunto com a quimioterapia e/ou radioterapia, podem reduzir significativamente a agressividade da doença.
Evidências clínicas sobre o uso de Cannabis para Leucemia
Com o avanço das pesquisas sobre canabinoides, vemos avanços significativos nas investigações sobre uso de Cannabis Medicinal para a Leucemia. Vamos trazer algumas das principais evidências encontradas na literatura científica a seguir.
Temos um artigo publicado no International Journal of Oncology que anuncia os resultados de pesquisas com uso de canabinoides, apontando atividades anticancerígenas em conjunto com a quimioterapia, trazendo melhores efeitos com o uso combinado. E, também, temos melhores resultados quando há a combinação de THC e CBD do que quando eles são ministrados sozinhos.
Novas pesquisas realizadas na Universidade de Londres corroboram essa questão, apontando a importância dos canabinoides no tratamento para Leucemia. A investigação foi um pouco mais robusta e analisou o uso de seis canabinoides e sua ação para interferir no desenvolvimento de células cancerígenas, evitando seu crescimento.
Assim, ela corroborou investigações anteriores sobre o THC e também investigou outros canabinoides “não-psicoativos”, tais como:
canabidiol (CBD);
canabigerol (CBG);
cannabigevarin (CBGV).
Eles apresentam evidências de que conseguem inibir o crescimento de células malignas em todas as fases do ciclo celular. E as ações tiveram maior potência com o uso combinado dos canabinoides.
Um artigo publicado na revista Molecular Cancer Research aponta como esse processo ocorre: os canabinoides interferem na apoptose, que é a ação de morte controlada de células de um organismo, evitando que elas se multipliquem de forma inadequada (justamente um dos mecanismos do câncer). Segundo a pesquisa, o THC, por exemplo, induz apoptose nas células T malignas de uma pessoa com Leucemia.
Podemos, ainda, esperar mais avanços nessa área. Isso porque, conforme um levantamento de revisão bibliográfica, tivemos um crescimento gradativo importante entre 2004 a 2020 nas pesquisas no uso de Cannabis Medicinal para o tratamento de leucemia. Isso potencializou-se, principalmente, com novas descobertas sobre o sistema endocanabinoide e receptores CB1 e CB2.
Como iniciar um tratamento com Cannabis
Diante dos benefícios que listamos aqui, muitos pacientes com Leucemia querem procurar o tratamento com Cannabis Medicinal, seja para conter os avanços do quadro, seja para ter efeitos colaterais do tratamento amenizados. Como falamos, em conjunto com os tratamentos convencionais, pode potencializar ainda mais as chances de cura.
Para isso, é importante contar com um médico prescritor que atue de forma multidisciplinar e conjunta com o seu oncologista de confiança. Assim, é possível encontrar formas de realizar um tratamento complementar e que possa auxiliar, de fato, na remissão do quadro e proporcionar qualidade de vida.
Mas como começar um tratamento com Cannabis Medicinal para a Leucemia? Para isso, é importante você encontrar um médico prescritor. Com isso, você consegue iniciar uma avaliação para identificar qual a circunstância atual, os tratamentos realizados, a fase do quadro e quais os tratamentos que já são realizados.
Por tratar-se de um quadro oncológico, caso o profissional não seja especializado em oncologia, ele trabalhará em parceria com o profissional que acompanha o seu quadro. Assim é possível encontrar um tratamento que possa estar alinhado com suas demandas e necessidades e auxiliar a ter uma melhor qualidade de vida.
O médico prescritor estará em acompanhamento constante, acompanhando os exames solicitados, bem como verificando a necessidade de adequação das dosagens quando necessário. Isso vale tanto quando estamos avaliando a ação antitumoral quanto para trazer maior conforto. Por exemplo, quando os canabinoides são utilizados para promover ação analgésica em relação a dores ósseas, comuns em alguns tipos de Leucemia, pode ser necessário realizar adequações para encontrar a dose e combinações adequadas de canabinoides.
Além disso, o profissional pode ajudá-lo, tirando suas dúvidas sobre o processo de obtenção das medicações, principalmente, no que diz respeito a documentação para obter autorização da Anvisa para os remédios. Assim, você terá uma parceria com o médico prescritor, que estará ao seu lado durante todo o tratamento.
Neste guia completo sobre Fevereiro Laranja, quisemos trazer as principais informações sobre a Leucemia, para auxiliar nossos leitores tanto na identificação do quadro quanto para buscar tratamentos que possam trazer qualidade de vida. E a Cannabis Medicinal poderá ser uma grande aliada.
publicação original: https://www.cannabisesaude.com.br/fevereiro-laranja-leucemia/amp/