O THC dentro do esporte

Por Cannabis & Saúde em 02/08/2022

O uso da cannabis no esporte vem crescendo de forma regulada, mas como fica o psicotrópico mais conhecido da planta nessa história?

A história do THC

O THC foi isolado pela primeira vez em 1964 por Raphael Mechoulam, Yechiel Gaoni e Habib Edery, ao extraí-lo a partir do haxixe com éter de petróleo, seguido de repetidas cromatografias.

Ele é encontrado em todas as partes da planta, mas especialmente nas flores e resina das plantas fêmeas. Já a sua concentração em cada planta depende de vários fatores, tais como o tipo de solo, o clima, a época de colheita e assim por diante. Este canabinóide exerce seu efeito através da ativação dos receptores canabinoides tipo 1, ou simplesmente CB1, localizados principalmente no sistema nervoso central. O THC também ativa os receptores canabinoides tipo 2, ou CB2, que têm relação direta com a atividade imune, uma vez que este receptor está localizado principalmente em estruturas do sistema imunológico.

THC dentro do esporte

E para poder falar sobre como o THC atua dentro do esporte, não posso deixar de falar sobre seu análogo endógeno, a Anandamida. ANA ou N-araquidonoyletanolamina (AEA) é um neurotransmissor endógeno (produzido pelo corpo), assim como a serotonina, endorfina e dopamina. Conhecida como a substância da felicidade, seu nome deriva da palavra sânscrita “ananda” que significa alegria, êxtase, felicidade suprema. Ela atua junto aos receptores CB1 e CB2 (receptores canabinoides). Ou seja, é um endocanabinoide.

A anandamida é para o THC e o sistema endocanabinoide o que um opioide alcaloide como a morfina é para o sistema opioide. Tanto a anandamida quanto o THC se ligam aos receptores CB1 e seus efeitos no corpo humano são bastante similares, apesar de o THC ser mais potente e ficar mais tempo ativo no corpo. Assim como a anandamida, o THC pode aliviar dor, náusea, relaxar a musculatura e estimular o apetite. Os fitocanabinoides (canabinoides originários da Cannabis) partilham frequentemente uma estrutura molecular similar com os nossos próprios endocanabinoides. Como o THC apresenta uma forma similar à da anandamida, ele também se liga e estimula tanto os receptores CB1 como os CB2.

Ou seja, nosso corpo de certa forma “produz THC” de forma endógena. Isso quer dizer que, ao preenchermos nossos receptores com fitocannabinóides, estamos estimulando nosso SEC de forma natural, visando propriedades terapêuticas e medicinais. O famoso ‘runner’s high’ foi recentemente um hype muito grande, quando se descobriu que não era a endorfina quem causava essa sensação de bem-estar após a prática de exercícios físicos, e sim a produção de Anandamida. Em um estudo comparando os níveis de Anandamida (AEA) no plasma de animais corredores (cães e seres humanos) ou não (furões), viu-se que naqueles sem o hábito da corrida os níveis de AEA não eram alterados, mesmo quando eles eram expostos a essa atividade. Esse dado reforça a importância da intensidade e constância do exercício para a maior propensão do aumento dos níveis de AEA e consequente ativação do sistema endocanabinoide.

Desta forma, com base em todo o conhecimento que se tem acerca das vias moduladas por esse sistema (através dos receptores CB1, CB2 ou TRPV1, por exemplo), acredita-se que sua ativação possa atuar na redução da dor, inflamação, além de promover efeitos sedativos e ansiolíticos, característicos do runner’s high. Portanto, ao praticar exercício físico você também está liberando AEA!

E do ponto de vista do doping?

A Agência Mundial Antidoping (Wada), é a associação que estabelece as diretrizes para as organizações esportivas em todo o mundo. O órgão considera como doping o uso de qualquer substância que tenha o potencial de melhorar o desempenho esportivo, viole o espírito esportivo ou represente risco para o atleta. Alguns cientistas, como é o caso da professora de psicologia e neurociência da Universidade do Colorado, Angela Bryan, que estuda os riscos e benefícios da cannabis e do THC, defende que a substância não causa nem ganho e nem prejuízo na performance dos atletas. De acordo com ela, a literatura sobre o tema é bastante escassa, com a maior parte dos estudos datando dos anos 1970. Por conta do baixo número de evidências acerca do uso de cannabis e a melhora ou piora do desempenho esportivo, além do fato da substância ser legal na maior parte dos estados dos EUA e em alguns países, como o Canadá e o Uruguai, Bryan acredita que a cannabis não deve mais ser considerada doping para atletas de elite.

Atleta Cannabis

Aqui no Brasil, a maior comunidade de Cannabis e Esporte do país, o Atleta Cannabis, vem fazendo uso de forma regular de produtos com alto teor de THC. Essa iniciativa do myGrazz, uma plataforma que traz acesso a produtos de cannabis e está lançando o primeiro app para iPhone e Android da America Latina, iniciou um estudo cujo objetivo é medir a melhora da performance dentro do esporte fazendo uso não só do THC, mas também de outros fitocannabinóides. Com o apoio da CareClub, a maior clínica esportiva do Brasil, os atletas vem fazendo uso do THC dentro dos treinos e das competições, onde a bronquio-dilatação, vasodilatação, clareza mental, foco e o deslocamento do desgaste neuro-motor com maior tolerância a dor e ao desconforto são os principais relatos até então.

Orientados pelo Dr. Renan Camargo, e em parceria com o Dr. Roberto Beck, o Protocolo Atleta Cannabis (PAC) deve em breve ser disponibilizado para o público, onde após uma consulta médica, será possível criar um ciclo de fitocannabinóides exclusivo para cada atleta, visando o controle do processo inflamatório, a melhora na recuperação muscular, na qualidade do sono e no controle da ansiedade para treinos e competições. E claro, não só para atletas que visam performance, o PAC também pode ser aplicado para pessoas que simplesmente praticam atividade física e querem melhorar sua saúde.

O THC então, deixa de ser vilão, e passa para personagem central dessa trama, onde de forma conjunta com o CBD e outros fitocannabinoides como o CBG e o CBN, estão a disposição dos médicos para que estes possam modular o Sistema Endocannabinoide (SEC) da melhor forma possível visando bem-estar, qualidade de vida e por que não, melhora na performance!

Publicação original: https://cannabisesaude.com.br/coluna-paternostro-thc-esportes/

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