Psicologia e a utilidade da Cannabis Medicinal

Por Green Science Times

Saímos há pouco do mês de setembro, que carrega consigo uma importante campanha de alcance mundial: o setembro amarelo. O objetivo da campanha é reforçar a conscientização sobre a prevenção ao suicídio. Mas as preocupações com questões relacionadas à saúde mental obviamente não podem se restringir a apenas um mês. E para ampliar o assunto, a equipe do Green Science Times entrevistou a psicóloga hipnoterapeuta ericksoniana Dayane Lima, para conversar sobre a utilidade da Cannabis Medicinal no aspecto psicológico.

“São diversas as pesquisas e os estudos que tem trazido à tona, cada vez mais, os benefícios da planta para a saúde humana e também animal. Desde tratamento para doenças de pele, até epilepsia. De utilidade terapêutica para tratar de dores, à melhoria na qualidade de vida de pacientes com câncer. Mas essa aplicação não se restringe aos problemas físicos, como também mentais.”

Na reportagem com Dayane, falamos não só de como os extratos da planta Cannabis podem auxiliar a tratar problemas de ordem psicológica e servir como uma ferramenta capaz de colaborar com pessoas em busca de maior qualidade de vida, no que diz respeito à saúde mental, mas também da caminhada profissional dela junto a essa causa, que abrange tantas famílias. Ainda foram abordados temas, tais como: o potencial terapêutico da planta na psicologia e os reflexos do tabu social com a Cannabis, na área da saúde.

Green Science Times (GST) – Antes de mais nada, é importante conhecermos seu trabalho na psicologia e seu elo com a planta. Quando você começou a se direcionar profissionalmente para a causa da Cannabis Medicinal? E o que a levou a se envolver com essa causa?

DL – Ainda estava na graduação quando meu esposo (médico com residência em acupuntura e pós no tratamento da dor) foi para o IV Simpósio Internacional da Cannabis Medicinal em 2014, os temas abordados me chamaram a atenção e voltei um olhar especial para o assunto. Escolhi a Psicologia porque queria achar uma forma de ajudar no alívio da dor emocional e me encantei com a psicologia da dor. Comecei a estudar sobre, muitas vezes trabalhando em conjunto com o meu esposo, acompanhando pacientes que faziam uso da Cannabis e observando os resultados do tratamento, comprovando a eficácia no alívio da dor física e mental.

GST – Até que ponto você considera que o preconceito que existe com a Cannabis devido ao seu uso recreativo acaba sendo refletido e atrapalhando no campo da saúde?

Dayane Lima (DL) – O preconceito existente com a planta ainda é um impedimento ou obstáculo. Vejo muito na prática clínica quando o paciente tem critérios para o uso e decide pelo tratamento a luta interna dele, e às vezes o não querer decepcionar a família como se fosse algo abominável. Sem falar que o preconceito junto com a criminalização da planta dificulta o acesso ao tratamento otimizado.

A imagem distorcida que foi criada de que a Cannabis causa esquizofrenia, é porta de entrada para outras drogas, assusta as pessoas. É preciso uma psicoeducação, levar informações verdadeiras, comprovações científicas e espalhar a verdade sobre a planta, sem utopia, deixando claro indicação e cautela na prescrição.

GST – Você considera seguro uso do canabidiol como ansiolítico contra a ansiedade e depressão? Como esse composto pode ajudar em cada um dos casos?

DL – Hoje são inúmeros os estudos que comprovam a eficácia da Cannabis e não só o canabidiol no tratamento da ansiedade e depressão, assim como outros transtornos de humor.

Acho seguro sim, desde que o paciente seja avaliado por um profissional médico capacitado para prescrição, utilize a Cannabis em óleo, pasta, cápsula, dentre outras formas, que seja conhecida e estabilizada para ter segurança na continuidade do tratamento e que ele faça um acompanhamento com os cuidados necessários para ajustes de dosagem.

Somos subjetivos e o tratamento com a Cannabis é feito sob medida para o paciente, levando em consideração seu histórico, sintomas, objetivos e não somente o rótulo da patologia.

Gosto da expressão “O sistema endocanabinóide é o Maestro dos outros sistemas”. Se o maestro está bem a orquestra entra em harmonia. Nosso corpo é dotado de uma inteligência que está sempre buscando manter esta harmonia e equilíbrio. Precisamos entender que nosso corpo fabrica canabinóides e que uma falta em sua produção pode levar a desarmonização, gerando alterações do humor, dentre outras patologias.

“Importante salientar que ansiedade e depressão precisam de um tratamento multidisciplinar, não existe pílula mágica. A depressão é viver no passado e a ansiedade é viver no futuro, é importante buscar estratégias para estar no presente. O paciente precisa rever hábitos alimentares, percebendo o que realmente faz bem e o que não faz, o que gera energia e o que tira, movimentar o corpo da forma que for possível (atividade física), fazer acompanhamento psicoterápico. Quanto mais a pessoa se conhece, mais ela se respeita e melhor sabe lidar com suas emoções.”

GST – Quais as principais diferenças do uso do canabidiol como ansiolítico em relação aos antidepressivos?

DL – A meu ver grande parte dos medicamentos alopáticos colocam os pacientes em um modo automático, diferente da cannabis, que devolve os sentidos, te trazendo para o presente. Uma outra diferença que percebemos na prática clínica se dá em relação ao efeito sustentado: o tratamento com antidepressivos alopáticos costuma resultar em efeitos satisfatórios por algumas semanas. Diferentemente dos canabinoides em que o paciente vai melhorando gradativamente à medida que vai sendo modulado o seu tratamento. Além do mais, muitas vezes a Cannabis ajuda no processo de ressignificação, contribuindo para que estes pacientes se sintam estimulados para aderir ao plano de tratamento como um todo que inclui um estilo de vida saudável.

GST – Sabemos que o canabidiol tem uma utilidade muito grande para ajudar no tratamento de diversos problemas de saúde. Mas outro composto da cannabis que tem mostrado sua importância medicinalmente falando é o THC. Se tratando do campo psicológico, o THC também pode ser útil?

DL – Sim, em alguns casos o THC é fundamental e precisa ser prescrito por um médico capacitado em medicina canábica, que vai avaliar o paciente, entendendo os sintomas que precisam ser aliviados e ver se tem critérios para o uso da substância.

GST – Muito se fala que a cannabis tem potencial para ‘‘revolucionar’’ a medicina. Numa visão mais restrita à parte da psicologia, qual o tamanho do potencial que você enxerga na cannabis para ajudar as pessoas a tratar seus problemas?

DL – Respondendo a pergunta e complementando a anterior, é preciso levar em conta que as enfermidades se manifestam através de sinais e sintomas decorrentes do comprometimento da homeostase (equilíbrio). O CBD e o THC que tem ações opostas e complementares, atuam no sistema endocanabinoide, que tem como função regular às diversas funções no corpo, como a modulação do humor, do sono, do apetite, do crescimento ósseo, da imunidade, entre outras funções que quando entram em desarmonia afetam diretamente a saúde mental. Ou seja, um enorme potencial.

GST – Sabemos que, assim como todo e qualquer outro remédio, o uso medicinal da cannabis pode não ser indicado no caso de alguns pacientes, por poder provocar algum efeito colateral negativo. Isso também se dá no aspecto psicológico? O uso da Cannabis Medicinal pode ter algum efeito negativo para algumas pessoas? Se sim, quais seriam esses casos?

DL – É o que chamamos de cautela na prescrição. A cannabis tem o potencial de desencadear sintomas psicológicos negativos e positivos, por isso a importância de uma avaliação prévia minuciosa para indicar o tratamento mais adequado para cada paciente. THC em doses altas pode desencadear sintomas psicológicos como alucinação, paranoia, ansiedade entre outros, mas se aplicado em doses baixas ou associado ao CBD podem proporcionar o efeito contrário, diminuindo a ansiedade e aumentando a sensação de bem-estar geral.

GST – Sabemos que a cannabis é uma planta que possui diversos tipos, diversas espécies. Terapeuticamente falando, tipos diferentes de cannabis podem ter resultados distintos nos tratamentos? Se sim, quais espécies são mais indicadas para tratamentos psicológicos?

DL – A Cannabis é uma planta que vem sendo domesticada pelos seres humanos há aproximadamente 12 mil anos, de acordo com suas necessidades e efeito adquirido no seu uso. Atualmente, mais do que levar em conta as subespécies (sativa, indica, ruderalis), devemos considerar qual quimiotipo dos mais de 3.500 catalogados estamos analisando, pois cada um vai proporcionar diferentes efeitos em dependência da concentração dos seus compostos fitocanabinoides, terpenoides, flavonoides dentre outros. Sem falar que não podemos esquecer da subjetividade de cada sujeito que interage de forma particular, elemento fundamental aliado com o ambiente do indivíduo para resultar num determinado efeito psicológico.

Conselho Regionais de Psicologia já despertam para o tema

Em julho de 2021, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) lançou a pesquisa “O conhecimento da(o) psicóloga(o) mineira(o) sobre o uso da Cannabis Terapêutica”. Durante os dois meses, profissionais de todo o estado foram convidados a contribuir com o levantamento, encerrado no final de setembro.

A iniciativa é da Comissão de Orientação em Psicologia e Tratamento com Cannabis Terapêutica, em busca de mais resultados com pacientes que apresentam problemas em conjunto com outras terapias. A comissão busca refletir, dialogar e propor melhorias para temas específicos atinentes à Psicologia enquanto Ciência e Profissão, articulando ações com as instâncias internas, com a categoria e com a sociedade em geral para efetivação desses diálogos. Tem também como finalidade subsidiar especificamente posicionamentos e orientações do CRP-MG.

Publicação original: https://greensciencetimes.com/editorial/psicologia-e-a-utilidade-da-cannabis-medicinal/

 

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